sexta-feira, outubro 27, 2006
terça-feira, outubro 24, 2006
# Outono Numa Noite de Inverno #
sábado, outubro 21, 2006
# DESLIGA #
O amor já não mora mais no baixo-ventre, agora mora mais na cabeça.No abaixo-ventre já tudo murchou,já nada se sente.Com isso, o baixo-ventre poupa-se a muita chatice.Mais vale uma sala-cozinha nova a brilhar,do que uma alegria na barriga a esquentar.A alegria arrefece,mas a cozinha permanece também estou a precisar de uma maquina de lavar.
As Amantes de Elfriede Jelinek
domingo, outubro 15, 2006
sábado, outubro 14, 2006
# Memória #
sexta-feira, outubro 13, 2006
# Falta...II #
A terra é seca, árida, inóspita. Às vezes parece quase estéril, percorrida pelas miragens que o calor a pique, inclemente, ergue do chão tórrido. Surpreendem-nos os vultos que despontam na paisagem, como se surgidos de lugar nenhum, a caminho do nada. Vão à água, procurar água, carregar água às costas e à cabeça, em carinhos de mão, em bidões e garrafões.
Quase nunca chove em Cabo Verde, o país das a-secas. A tchuba é uma dádiva incerta que cai do céu. Mas não se pode contar com ela. É preciso acordar cedo, percorrer os caminhos a pé, esperar ao sol em filas pela vez de ter acesso aos fontenários de abastecimento público. E depois voltar pelo mesmo trilho, mais pesados, subindo e descendo arribas, trepando montanhas.
Cabo Verde são dez ilhas: um país. Dez pedaços de terra seca onde tudo depende do trabalho que se faça, da água que se carregue, dos caminhos que se percorra. É um país que afasta os seus filhos, que os manda ir procurar riqueza em outras paragens. Mais de metade dos cabo-verdianos mora em outros países – onde seja mais fácil viver. Os que ficam, porém, sabem que desde meninos têm que aprender a arte de procurar a água, carregá-la, poupá-la. Vão pelos montes de Santiago, pelo chão estiolado do Sal, pelas veredas inóspitas de Soncente. Andam e andam e andam. E ninguém sorri como eles.
Manuel Jorge Marmelo
# visita ao porto #
Não há fotografias simples. Mesmo as que se nos apresentam sem complicações aparentes. Mais de um século e meio depois da primeira apresentação pública da invenção dos senhores Niépce e Daguerre, mesmo em tempo de presença ubíqua da imagem, ainda nos surpreende a eternização de um momento operada pela luz numa superfície sensível. E se a morte do tempo, ao suspender o correr da vida, é angustiante e até diabólica, o mistério fotográfico adensa-se com o recurso a imagens especulares. Neste caso, há dois espaços de vida fixados, duas margens de um rio, dois pedaços da face da mesma mulher. À esquerda, a silhueta vulgar dos Clérigos remete-nos para o bilhete-postal turístico e para o lugar comum, uma banalidade cortada pela intrusão forte do vermelho denso dos lábios e do batom. À direita, a desmontagem do banal fotográfico acentua-se com a imagem espelhada de um espaço pobre que não vende postais a turistas vulgares, subitamente iluminado por um vermelho doce e sensual. E há, ainda, a suspensão da atenção na paisagem por parte da “visita”, momentaneamente dedicada a si própria e alvo, talvez inconsciente, deste múltiplo e rico “retrato” da cidade invicta.
Carlos Romero
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