OBRIGADO JOSÉ SARAMAGO
“Ele adormeceu, ela não.Então ela, a morte, levantou-se, abriu a bolsa que tinha deixado na sala e retirou a carta de cor violeta. Olhou em redor como se tivesse à procura de um lugar onde a pudesse deixar, sobre o piano, metida entre as cordas do violoncelo, ou então no próprio quarto, debaixo da almofada em que a cabeça do homem descansava. Não o fez. Saiu para a cozinha , acendeu um fósforo, um fósforo humilde, ela que poderia desfazer o papel com o olhar, reduzi-lo a uma impalpável poeira , ela que poderia pegar-lhe fogo só com o contacto dos dedos, e era um simples fósforo, o fósforo comum, o fósforo de todos os dias, que fazia arder a carta da morte, essa que só a morte podia destruir.Não ficaram cinzas. A morte voltou para a cama , abraçou-se ao homeme , sem compreender o que lhe estava a suceder, ela que nunca dormia , sentiu que o sono lhe fazia descair suavemente as pálpebras. No dia seguinte ninguém morreu.”
JOSÉ SARAMAGO
As Intermitências da Morte
"O erro é crer que a culpa terá de ser entendida da mesma maneira por deus e pelos homens, disse um dos anjos,"
JOSÉ SARAMAGO
CAIM
domingo, junho 20, 2010
sexta-feira, junho 11, 2010
# Mais braço, menos braço - 10 #
Porque insistem em falar-me da Nikita? Já disse que não tenho mais nada a dizer sobre ela. Se a vi? Vi, vejo-a muitas vezes, mas não pensem que é por isso que vos direi onde ela está. Façam de conta que morreu. É isso que ela me costuma dizer, quando lhe falo do vosso interesse. "Diz-lhes que façam de conta que morri", tal qual. Desapareceu porque quis, não foi raptada, ninguém a forçou. Cansou-se. Vocês nunca se cansam? Ela cansou-se e acho mesmo que nunca mais a verão. Ou talvez me engane, quem sabe? O que conta é que não vale a pena insistirem. Ela quer que a deixem em paz. Se algum dia mudar de ideias, ela próprio vos dirá. E, agora, vá. O meu nome é Nina. Querem saber de mim? Porque da Nikita não volto a falar.
Tatiana Irianova
A Nikita foi vista pela última vez a 13 Maio em Fátima
http://paulopimenta.blogspot.com/2009_05_01_archive.html
Tatiana Irianova
A Nikita foi vista pela última vez a 13 Maio em Fátima
http://paulopimenta.blogspot.com/2009_05_01_archive.html
quarta-feira, junho 09, 2010
# Lx 3 dias #
É a minha cidade, e não sei se é a minha cidade. Homens dobrados, embrulhados em panos, encapuçados como na Idade Média. Preto-e-branco, sim, tens toda a razão. Esta cidade é a preto-e-branco: onde foi que a perdemos?
No pátio dos antigos inquisidores, as placas pedem desculpa por há 500 anos, e aqueles que estão vivos agora sentam-se a olhar para nada e ninguém os vê. Africanos no pátio, nas escadas de pedra, nas escadas rolantes, no banco de metro com um cartaz por cima a dizer Soul. Muçulmanos de barretinho e túnica que à sexta se curvam em vãos-de-escada ali para trás, Rua de São José, Martim Moniz, Mouraria. E na colina o castelo de mentira, com as suas bandeiras mata-mouros, tão airoso. E cá em baixo o triunfo da banca, a hipoteca, a bancarrota, nós mesmos, com pedrinhas de calçada, calçadinha, e bancos de pedra design. Que alguém durma, pelo menos. Venha o sono e acordemos noutro lugar.
Ruínas e portas entaipadas, braços fechados a quem chega. Mas não nos lembramos de quem somos, não nos lembramos de quando partimos, Paris, Newark, Caracas, o mundo?
Um gato ao sol, afortunado, seja.
Alexandra Lucas Coelho jornalista do Jornal Público
No pátio dos antigos inquisidores, as placas pedem desculpa por há 500 anos, e aqueles que estão vivos agora sentam-se a olhar para nada e ninguém os vê. Africanos no pátio, nas escadas de pedra, nas escadas rolantes, no banco de metro com um cartaz por cima a dizer Soul. Muçulmanos de barretinho e túnica que à sexta se curvam em vãos-de-escada ali para trás, Rua de São José, Martim Moniz, Mouraria. E na colina o castelo de mentira, com as suas bandeiras mata-mouros, tão airoso. E cá em baixo o triunfo da banca, a hipoteca, a bancarrota, nós mesmos, com pedrinhas de calçada, calçadinha, e bancos de pedra design. Que alguém durma, pelo menos. Venha o sono e acordemos noutro lugar.
Ruínas e portas entaipadas, braços fechados a quem chega. Mas não nos lembramos de quem somos, não nos lembramos de quando partimos, Paris, Newark, Caracas, o mundo?
Um gato ao sol, afortunado, seja.
Alexandra Lucas Coelho jornalista do Jornal Público
# uma fraqueza maior #
# morrerá do riso #
segunda-feira, junho 07, 2010
# Regresso a Custóias #
Assinar:
Postagens (Atom)