domingo, setembro 30, 2012

# O Doméstico já está na Rua com o Festival Manobras #

Um manifesto de estima pelo lugar e pela comunidade apartir do espaço doméstico




Inauguração no dia 28 Setembro até ao dia 07 Outubro
das 12h ás 19h

Festival MANOBRAS

Escadas Dos Guindais

Escadas Do Codeçal

Escadas DA N.Srª.Das Verdades

O Doméstico Saiu à Rua_ um manifesto de estima pelo lugar e pela comunidade

João Gaspar , Monica Loureiro e Paulo Pimenta



A Sé, enquanto lugar e comunidade, encontra-se numa condição de especial isolamento em relação às dinâmicas da Cidade do Porto, até do próprio centro histórico. A condição de património classificado parece não produzir na população desta área uma especial valia ou melhoria das condições de vida; o que resulta numa aparente indiferença da população face a esse valor/classificação. Aliado a outras condições, mais ou menos circunstanciais, é evidente o estado de abandono a vários níveis que se verifica neste património: do devoluto ao negligenciado.

Na intenção de perceber este lugar hoje, num reconhecimento do seu valor, pretende-se explorar aqui a mais permanente das suas facetas, aquela que não é excepcional nem efémera: o quotidiano da sua população a partir e de encontro ao espaço doméstico. O reconhecimento do valor deste interior doméstico é o primeiro dos espaços para a construção da consciência de que esse património a preservar ultrapassa a fachada, ultrapassa a construção edificada. Ele é património social, etnográfico. As pessoas que habitam este lugar são a condição do seu presente. É esse valor que queremos construir nesta acção.

Um Projecto Festival Manobras


SOFÁ D 05 03 04 02 06 08 09 01 07 10

domingo, setembro 23, 2012

# O Doméstico Saiu à Rua #

Um manifesto de estima pelo lugar e pela comunidade apartir  do espaço doméstico

Inauguração no dia 28 Setembro
Festival MANOBRAS
Escadas Dos Guindais
Escadas Do Codeçal
Escadas DA N.Srª.Das  Verdades lala
D.LALA 13/07/2012


«Eu acho que a gente ganha saúde aqui. A minha mãe está no bairro e eu nunca vou para lá, ela é que vem para aqui. E o bairro do Lordelo é muito sossegadinho. A gente aqui não tem mercearia, temos que ir lá em cima à loja ou a Passos Manuel. Mas se me falta alguma coisa, vou ali à vizinha de trás – Olha oh Paula tens aí um bocado de pimenta? – e pronto.»

«A gente põe aqui no pegão as piscinas e a canhalha está aí e não há problema nenhum. A canalha anda aí à vontade. Tenho uma irmã minha que vive bem, tem casa, tem piscina, tem tudo e ela gosta de vir para aqui.»

«Porque é assim, eu quando vim para aqui, a minha casa, eu morava no setenta segundo esquerdo, é uma casa pequena. É aquele lado, eu depois vou lhe mostrar. Só que depois a vizinha do lado direito saiu, e então eu aluguei o lado direito também. O meu marido abriu aquilo ao meio e fiquei então com a casa toda ampla. Tenho os dois números, o setenta o esquerdo e o direito.»

nair
D NAIR_ 26/07/2012


«Foi ali que eu nasci. Nascida e criada ali.»

«O que é antigamente os senhorios era assim, faziam esta aldrabices. O que é roubavam (espaço) a umas para pôr noutras, para fazer duas casas, para ganhar. Faziam estas divisões assim.»

«Antigamente cozinhava-se com fogões de barro. Com o carvão de choça, como se chamava.»

«Os ordenados eram baixos e agora ainda vamos para pior. É o que eu digo, eu torno outra vez ao antigo. Nem que se queira erguer a cabeça, não pode, tem que baixar. Eles cortam as pernas mesmo rente à gente. Mas ninguém reage. Pelo contrário, ainda os ajudam.»

«E olhe foram todos criados aqui, graças a Deus não houve problemas nenhuns. Sempre com respeito.»

«[a minha mãe] Andou a acartar carvão também. Antigamente havia as carquejeiras e ela também andou nisso, naquelas alturas veja lá. Veja lá, aos anos. Foi carquejeira nos carretos do carvão e depois foi para o Grémio da Fruta.»

«Numa casa tão pequenina e as pessoas pensam como é que criou aqui tanta gente.»

    graça
D.GRAÇA 29/06/2012


«O aluguer era trinta euros...que não é nada não é? Depois é que a senhoria, há quatro anos atrás, pensou botar a casa à venda. Como eram dois mil e quatrocentos contos, baratinha, eu comprei. Pedi um empréstimo ao banco e agora andamos a pagar. E para as obras, mas só deu lá para (o andar de) cima o dinheiro, não deu para mais, cá para baixo já não deu. Não chegou. Também tive aqui um homem que andou aí a fazer as obras e levou-me o dinheiro e não acabou o serviço.»

«Pronto, as casas, a maior parte, foram postas à venda, e às vezes ao jantar eu dizia- E se vai tudo embora? Ficamos aqui...- aminha filha dizia- Oh mãe, então ficamos cá nós, que eu daqui não saio, daqui vou para o cemitério.Quando se fez obras, eu andava até à meia-noite, eu mais os meus filhos a acartar o material. Porque é assim, os trolhas...eu é que comprei o material e os trolhas disseram logo – a gente aqui a subir e a descer...- eu disse estais à vontade que nós acartamos.»

«Os senhores podem não se acreditar, os senhores vão ver a minha casa e a minha casa não é nada por aí além. Mas não sabem o gosto que eu tinha quando andava aí nas obras. O gosto que eu tinha em ver a minha casa a melhorar.»

«Nós temos que proteger o que é nosso. Lá está, esta rua é minha.»

«Eu não quero que aconteça nada ao meu quintal. (...) Eu acho que num apartamento eu não me dava a viver. Para já não podia ter nenhum cão. Eu antigamente ainda pus batatas e assim mas eles tiramvam tudo. (...) Os apartamentos parece que são umas gaiolas.»

«O mais novo tem onze anos, e ele brinca muito quintal que ele gosta, anda a mexer na terra e tudo. Mas eu podia deixá-lo andar aqui na rua à vontade porque não há carros nem nada. Não há problema nenhum, não lhe a»contece nada. Só se chateia para andar de bicicleta (devido aos degraus das escadas).

gloria
D. GLÓRIA 15/06/2012


»A parte da casa onde custumo estar mais é aqui, nesta salinha, sala de estar e sala de jantar, neste sofazinho... este sofazinho foi comprado para aqui... É aparte que mais gosto, gosto de todos os bocadinhos que tenho, mas este... »

«De lá fora parece uma coisa e aqui parece outra... Quando entraram ficaram assim... Como quem diz eu tenho tudo.... Chegaram aqui dei-lhe o lanche... Pessoas que eu não conhecia, mas se eram amigos do meu irmão eram meus amigos também.... Até perguntaram à minha sobrinha se tinha cominicado alguma coisa se a agente vinha cá... Apresentei-lhe uma mesa com o fiambrezinho, chorição vinhinho...»

«Com o elevador teve que sairr muita gente que saiu para os bairros, contava vir pra aqui e nunca mais vieram... há muito pouca gente agora...[acerca do funicular]... para o pessoal daqui não dá jeito nehum, ... é raro, só se eu for à ribeira e para não estar a subir muito, venho, subo lá em cima e desço....»

«Estendia (a roupa) no quintal mas agora estendo aqui à.., e já tem servido muita vez, os lençois que ponho alí a secar , de fundo para os estrangeiros tirarem fotografias, eu assim de pijama.. e ando por aí fora, eu não sei por onde, mas ando pelo mundo fora, russia, japão, chineses...»

segunda-feira, setembro 17, 2012

# O Domèstico Saio Á Rua II #

COZINHA_DONA_LALA #PP_MANOBRAS_57 SOFÁ D #PP_MANOBRAS_119 PLANTA D GRAÇA #PP_MANOBRAS_160 O projecto está a chegar á Rua

sábado, setembro 15, 2012

#O Domèstico Saiu Á Rua #

Um projecto Manobras desenvolvido Mónica Loureiro, João Gaspar, Paulo Pimenta

O Doméstico Saiu à Rua_ um manifesto de estima pelo lugar e pela comunidade




A Sé, enquanto lugar e comunidade, encontra-se numa condição de especial isolamento em relação às dinâmicas da Cidade do Porto, até do próprio centro histórico. A condição de património classificado parece não produzir na população desta área uma especial valia ou melhoria das condições de vida; o que resulta numa aparente indiferença da população face a esse valor/classificação. Aliado a outras condições, mais ou menos circunstanciais, é evidente o estado de abandono a vários níveis que se verifica neste património: do devoluto ao negligenciado.

Na intenção de perceber este lugar hoje, num reconhecimento do seu valor, pretende-se explorar aqui a mais permanente das suas facetas, aquela que não é excepcional nem efémera: o quotidiano da sua população a partir e de encontro ao espaço doméstico. O reconhecimento do valor deste interior doméstico é o primeiro dos espaços para a construção da consciência de que esse património a preservar ultrapassa a fachada, ultrapassa a construção edificada. Ele é património social, etnográfico. As pessoas que habitam este lugar são a condição do seu presente. É esse valor que queremos construir nesta acção.

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Nas suas possibilidades de acção, e nas suas limitações, procuramos a construção da estima pelo lugar e pelos próprios, enquanto comunidade. Estima que mais que valor moral ou anímico significa uma valoração própria, essencial para à condição de cidadão, essencial para a criação de uma capacidade de participação nas acções sobre o seu espaço. Valor que pode ser encontrado nas características singulares destes lugares interiores, nas rotinas e nos rituais, na sua diversidade de ocupação, nas pistas da sua preservação, do seu futuro.


Foi seleccionado por critérios de disponibilidade e representatividade um conjunto de casas e residentes com os quais a acção foi sendo construída, além do estudo/levantamento do espaço e rotinas, este conjunto de residentes assume o papel de parceiro da acção, serão eles os interlocutores da exposição, serão as suas casas, na sua dimensão pública o suporte (ou parte do suporte de esposição) dos resultados desta acção. O caminho entre estas casa, entre estes pontos será o roteiro do evento, é feita uma prévia indicação do percurso proposto entre as Escadas dos Guindais, Escadas da Nossa Senhora das Verdades e as Escadas do Codeçal. Explorando a singularidade destas ruas-em-escada, que condensam uma condição mais intensa de isolamento, e que pela promiscuidade entre público e privado são lugares de especial força e singularidade que acreditamos potenciar as intensões da acção proposta.

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A acção é composta pela exposição e criação de um documento-arquivo deste levantamento representativo do doméstico, merecendo aqui um esclarecimento prévio: além do reconhecimento de um conjunto de espaços domésticos registam-se rotinas, estratégias de ocupação, variações e dimensões subjectivas, da relação da pessoa com o lugar e com o espaço da casa. No trabalho de campo, estabeleceu-se-se a possibilidade de proximidade, de intensidade de contacto, que permita estabelecer uma relação de cumplicidade. A acção visa essencialmente dois tipo de registo profissional: a fotografia e o desenho.


Pretende-se que este processo envolva as pessoas numa reflexão sobre o habitar próprio. Como se habita a Sé hoje, nos vários domínios do seu quotidiano

07

terça-feira, setembro 11, 2012

# Nó na garganta #

DSC_2068#PP_FOME_02 Dá um nó na garganta só de pensar e ainda há quem passe e não fique parado ou pelo menos tente perceber. Já lhe deram dinheiro e já lhe fizeram festinhas na cabeça, tentando impingir uma peça de fruta. Zé Cardoso vai continuar a lutar em silêncio, de cabeça baixa e a contar os minutos, por um emprego.


Esta greve de fome em silêncio, no meio da rua, dói e dói a todos os que ficam com um nó na garganta só de pensar.
Ana Maria Henriques

ver o resto no
 http://p3.publico.pt/actualidade/sociedade/4529/jose-28-anos-esta-em-greve-de-fome-ate-conseguir-emprego

domingo, setembro 09, 2012

# Inauguração da Exposição "Na Casa De" #

Apartir 18.30
12 Setembro 2012
FNAC  do Porto  na Rua Stª.Catarina

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HABITAÇÂO E IDENTIDADE SOCIAL




As relações sociais manifestam-se sempre num espaço e num tempo. O espaço habitacional e de alojamento está por isso carregado de sentimentos, praticas, significados, lógicas, rituais.

As Casas que fotografámos sempre com gente dentro eram muito pobres mas o seu capital simbólico muito rico. Às vezes quando a objectiva da câmara se abria o registo fotográfico revelava sofrimento, vergonha, desprestigio social.

Associado à insalubridade, à falta de conforto, comodidade e segurança vinha preso ao olhar destes moradores a reputação do fracasso, a fama da má sorte, o castigo de Deus, a distinção social negativa por viverem aqui.

Fotografámos muito o perigo eminente de ruína de alguns telhados mas em muitas casas o homem da que dava ordens à maquina só conseguiu retratar a simbolização do espaço ,ou seja o que significa para estas famílias viverem neste local e como a comunidade envolvente os classifica na impiedosa tabela do prestigio social e do senso comum.

A Máquina fotográfica fala e sabe interpretar a lógica segregacionista da sociedade de classes. Os lugares de residência distinguem socialmente as pessoas. Os lugares onde as pessoas vivem reflectem uma descontinuidade dos modos de vida dentro da cidade. Há rupturas que é necessário evidenciar, desmascarar, denunciar. Uns vivem aparentemente bem alojados ,sem privação, munidos de conforto, poder e prestigio social , outros sobrevivem nos territórios da exclusão , segregados, com ratos e cobras a entrarem –lhes pelas portas dentro, sem saneamento, sem casa de banho interior, com a chuva a escorrer pelas paredes pálidas ond estão sempre seguradas fotografias e a etiquetagem social negativa sem caixilho.

Mesmo assim, a minha casinha como dizem, é para muitos o seu mundo, pequeno mas arrumado, a minha casinha é como a sua vida, gasta e já sem remendo ,a minha casinha é para muitos uma fortaleza, não lhes dá poder nenhum, mas permite-lhes esconder algumas feridas . A minha casinha cortou-me as pernas

e as oportunidades mas é aqui que eu quero morrer, porque a pessoa que eu sou e o meu estilo de vida são a porta e a janela da casa onde eu moro.

Porto,17 de Maio de 2011

José António Pinto

segunda-feira, setembro 03, 2012

# Exposição "Enquanto Estamos Acordados"

José Rosinhas Art Gallery Wall
Dia 08 Setembro as 16h inauguração da Exposição de Paulo Pimenta com o Projecto  "Enquanto Estamos Acordados"
até 6 de Outubro de 2012
Exposhop
Rua Pinto Bessa, 222 (Porto)
De Seg.a Sexta das 09h00 às18h 010203040506

As roupas são as mesmas, os padrões são idênticos, as combinações são garridas. Parece uma moda — é uma moda. Há muita cor e vida na roupa. Nas pessoas a escuridão é total.

Há cada vez mais gente na rua. Moram lá. Sobrevivem. Há cada vez mais sítios adaptados e espaços organizados. Há roupa estendida, pequenas evoluções, camas arrumadas, pinturas naïf, um ou outro colchão, uma ou outra antena de televisão, um ou outro casal, vida a dois, roupa alinhada, os restos do almoço prontos para o jantar. “Chega-se a este ponto”, desabafou durante um café o Pimenta, que fotografa pessoas mesmo quando não as fotografa e que conhece cada vez mais a paisagem dos sem-abrigo do Porto. “Vou na esperança de não o ver lá. Mas é uma rotina. Não ficam um dia ou uma semana. Passaram dois meses, seis, um ano, dois anos”.

As fotografias desta exposição multiplicam-se há anos ao ritmo da degradação da cidade e da autoestima daqueles que vivem nas suas ruas. “São os meus percursos, o meu olhar, uma espécie de diálogo no território deles, que desaparecem e aparecem”. Mercado Bom Sucesso, Aliados, Ponte D. Luís, Passos Manuel, Silo-Auto, Campanhã, Praça da República, Coronel Pacheco... “Todos os dias passamos e habituamo-nos”. Ele não. Nada se altera. A terra e as pedras a segurar as pontas do cobertor. As caixas de cartão sem dono.

Fotografa-os de dia porque à noite estamos ocupados. Horário nobre, notícias, concursos, CSI, medalhas olímpicas. “À noite estamos habituados. Mas ninguém está livre de cair numa situação destas, de desistir da vida aparentemente normal e de cair na rua. Não é uma coisa bonita. Também dói fotografar. Sinto o cheiro. O cheiro fica e cria pesadelos no conforto da minha casa”.

Luís Octávio Costa