Os cegos vêem casas em cinzas. Ouvem a madeira a estalar em convulsivas lutas, com as chamas em devoração.
Os velhos ouvem vozes. O tilintar dos fantasmas entorpecidos. Doutras vidas. [E reconciliam-se com eles para tão cedo não cederem].
A velha dorme. O colchão ficou mole do corpo insistente. E dobra-se. Agora o cão entra para dentro do café. Depois da segunda escada. E a mulher conta as moedas envelhecidas, com aquele cheiro metálico. [Somos todos esquisitos com as nossas manias. E os outros acham-nos estranhos, sempre! Como se fossemos senhores absolutos do que devemos ser – como massa homogénea!].
As chávenas raspam a mesa. Os pires têm café entornado! E continuamos sem saber nada da vida. Desta ou da outra. [Ou dos nossos vícios]. E nunca ninguém responde. Telemóveis atordoam o silêncio. E respondem ao barulho da máquina registadora, ansiosa, sempre, por facturar – para espantar o pó; sacudir a utilidade.
Os embriões sonham com águas tranquilas. E as crianças vão esquecendo as memórias de outrora. O cão saiu agora do café! Ninguém o expulsou. Fê-lo a si mesmo. Com autoridade. Irritado com a máquina registadora. Os velhos calam as vozes com as doenças. Falam delas como se de negócio se tratasse. Comerciantes de calamidades. Expiam os pecados do corpo numa violenta velocidade ansiosa. Enumeram males. Cada um tem sempre o pior. Esquecem o nome da doença. Dizem que o tempo deles era bem melhor que o de agora. Julgam os novos e entregam-se à monotonia das palavras: “para o ano não sei se cá estarei!”.
E os cegos vêem casas em cinzas; vêem espelhos baços que reflectem a luz apagada. Não falam de doenças incuráveis! E não ouvem vozes como os velhos.
A velha parou de contar as moedas. Conta as contas do terço amarelado da gaveta.
As crianças foram dadas à nascença. Esperam a reconciliação quando chegarem a ser velhas. O entendimento com os fantasmas entorpecidos; esquecidos da idade. Porque o tempo não é mesmo do outro lado. Em lado nenhum. Há um deles que adormece com o som do tiquetaque, numa ilusão dos segundos que não existem.
Somos todos estranhos nas nossas manias. Esquisitos aos outros no caos da desordem. E adormecemos depois da insónia. Depois das doenças que não tivemos, mas gostaríamos! Depois de todos os cães terem sido expulsos. E das nossas manias deixarem de ser estranhas; agora homogéneas. Depois dos cegos perderem a lucidez das casas em chamas.
Os velhos ouvem vozes. O tilintar dos fantasmas entorpecidos. Doutras vidas. [E reconciliam-se com eles para tão cedo não cederem].
A velha dorme. O colchão ficou mole do corpo insistente. E dobra-se. Agora o cão entra para dentro do café. Depois da segunda escada. E a mulher conta as moedas envelhecidas, com aquele cheiro metálico. [Somos todos esquisitos com as nossas manias. E os outros acham-nos estranhos, sempre! Como se fossemos senhores absolutos do que devemos ser – como massa homogénea!].
As chávenas raspam a mesa. Os pires têm café entornado! E continuamos sem saber nada da vida. Desta ou da outra. [Ou dos nossos vícios]. E nunca ninguém responde. Telemóveis atordoam o silêncio. E respondem ao barulho da máquina registadora, ansiosa, sempre, por facturar – para espantar o pó; sacudir a utilidade.
Os embriões sonham com águas tranquilas. E as crianças vão esquecendo as memórias de outrora. O cão saiu agora do café! Ninguém o expulsou. Fê-lo a si mesmo. Com autoridade. Irritado com a máquina registadora. Os velhos calam as vozes com as doenças. Falam delas como se de negócio se tratasse. Comerciantes de calamidades. Expiam os pecados do corpo numa violenta velocidade ansiosa. Enumeram males. Cada um tem sempre o pior. Esquecem o nome da doença. Dizem que o tempo deles era bem melhor que o de agora. Julgam os novos e entregam-se à monotonia das palavras: “para o ano não sei se cá estarei!”.
E os cegos vêem casas em cinzas; vêem espelhos baços que reflectem a luz apagada. Não falam de doenças incuráveis! E não ouvem vozes como os velhos.
A velha parou de contar as moedas. Conta as contas do terço amarelado da gaveta.
As crianças foram dadas à nascença. Esperam a reconciliação quando chegarem a ser velhas. O entendimento com os fantasmas entorpecidos; esquecidos da idade. Porque o tempo não é mesmo do outro lado. Em lado nenhum. Há um deles que adormece com o som do tiquetaque, numa ilusão dos segundos que não existem.
Somos todos estranhos nas nossas manias. Esquisitos aos outros no caos da desordem. E adormecemos depois da insónia. Depois das doenças que não tivemos, mas gostaríamos! Depois de todos os cães terem sido expulsos. E das nossas manias deixarem de ser estranhas; agora homogéneas. Depois dos cegos perderem a lucidez das casas em chamas.
Vanessa rodrigues.