A iconografia religiosa sempre suscitou mistérios ao homem, dito de outra forma, espelhou esses mistérios, paradoxalmente sem os desvendar. Para um ‘católico não praticante’, ou melhor, para dois, o agente do texto e o das imagens, com o que essa condição possa consubstanciar, a denominação põe-se mesmo a jeito para a analogia com o desporto, traduz-se portanto em algo como não ir aos treinos e não ser convocado para os jogos, mas continuar a acreditar na equipa. A proliferação das imagens de Nossa Senhora de Fátima nos mais diversos lugares encerra o devoto desejo da resolução dos problemas, um depósito a crédito bonificado na renovação da esperança perdida. Tratar-se-á de um inequívoco negócio a venda das imagens da virgem de nome árabe? Sem dúvida. É verdade que na actualidade a Fé move a Finança, mas o que são hoje, à laia de exemplo, as imagens de Che Guevara em oferta desbaratada, senão a mais terrível das contradições: a de um mito revolucionário, cuja luta anti-capitalista o universalizou, e que agora o tornou num dos símbolos de maior facturação tendo por base um ícone?
Teriam ‘Che’, o Profeta, ou Cristo, o Revolucionário (sim, é mesmo assim, sem direito a vice-versa) de acabar estampados em t-shirts?! Teria Nossa Senhora de Fátima querido o milagre da multiplicação das imagens? E quem nos garante a nós, supostamente os mais cultos e informados, que uma imagem-objecto, um artefacto da Mãe de Jesus, em regime mais fluorescente ou mais opaco, não é o melhor dos elixires psicológicos em tempo de crise para quem nisso acredita? De ópio não percebo nada, mas gosto de um bom tónico.
João Fernando Arezes
Fotos:Paulo Pimenta
sábado, agosto 14, 2010
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Um comentário:
mto bom!
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