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Projecto sobre a crise em Portugal
PERCURSO
PELA CIDADE, CRISE, DESILUSÃO, VAZIO. Fotografias de Paulo Pimenta
“É sempre
irracional? Que todos os homens precisam de sonhar, mesmo que saibam que os
sonhos são apenas isso, sonhos?”
“Quantas
vezes os sonhos se desfaziam entre os dedos precisamente quando pareciam ao
alcance da mão?”
José Manuel Fajardo, in “Demónios à minha porta”
Viajo pela
cidade numa rotina diária, fazendo percursos sem destino e encontrando seres
abandonados, deitados no chão, num sono profundo. Cobertos por jornais,
cobertores e caixas de cartão. Lá estão eles a dormir mais uma vez durante o
dia. Vou viajando pelas ruas, encontrando estas criaturas desligadas do mundo
enquanto a cidade permanece sempre acordada. Carros a apitar, crianças a
gritar, transeuntes a falar ao telemóvel, absorvidos pelos seus inadiáveis
compromissos. Chuva, sol, vento e frio. E eles continuam a repousar sobre o
mais duro dos leitos, num sono tão profundo que me leva a imaginar o que sonham.
Mas será que sonham?
Viajo pela
cidade e cada vez encontro mais lojas fechadas, casas abandonadas, pessoas a
desesperar, a irem embora, manifestações, lutas, desilusão, desemprego,
memórias de sítios que já não existem. É a actualidade do meu país, é a instabilidade,
o medo, a incerteza, a tristeza dos meus amigos ou conhecidos. São pais que têm
vergonha de pedir e passam fome para dar comida aos seus filhos, crianças que
só têm uma refeição por dia na escola. Todos os dias aumenta o desemprego, a
pobreza, fome, a austeridade, o fosso entre classes sociais.
Será que
vale a pena sonhar acordado? Ou sonhar a dormir? O que vai fazer mais a troika
pelo poder económico? Até onde estas pessoas poderão ir, e nós até quando
aguentamos?
Os demónios
vão continuar à minha porta?
O meu
trabalho será apresentado em forma de instalação, com som, as imagens em
slideshow, e terá aproximadamente quatro minutos de projecção.
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