segunda-feira, novembro 12, 2018

Solos Fotográficos

 Insónia, Insónias

 Fotografias: Paulo Pimenta
Texto: Vanessa Ribeiro Rodrigues

 Tudo era mais simples antes do Tempo. A partir do Tempo, só o agora, que liquefaz todo o compasso das nossas tempestades diárias. Intempéries incertas e imprevistas. A rajada que estraçalha os galhos das árvores. A poeira que nos cega. As gotas de chuva como agulhas penetrantes, em fluída contundência para (re)abrir a dor que lateja. Silencia-me para poder pensar. E firmo um pacto contigo. Dás-me a violência da criação para que me desassossegue. Porque, no dia-a-dia, vencemos animais ferozes, domamos animais selvagens, desvalamos no ser primordial que habita em nós. Somos a nudez da ausência constante. O vazio reinventado, as fronteiras de sanidade e a gruta. No fim, principiamos, porque somos caminhantes nocturnos. Somos labirintos estrangeiros; as raízes sem chão. E o dia começa quando tomba a noite. Do breu nasce a noite branca. Da quietude do silêncio, brota o ruído do pensamento. Da rasa desumanidade, nasce o poder do tudo: e eu sou anti-alienação. Como se vive, assim? Tudo é luta. Estamos cansados. Tão extenuados. Parem as máquinas, descodifiquem-se os silêncios. Eles são a sábia linguagem interior que nos desconcerta de tão atarefada que se põe a parir sentidos. É a turbulência que se forma no istmo do que resta. E o que resta é o preto-silhueta, as manchas de intempéries de mim; o fôlego dos aforismos, a sofreguidão despida da alma que se expõe à carne antes do pó que seremos. E estamos tão imensamente ausentes de silêncio. Tão anestesiados pela cultura do obsoleto. Incapazes de reaprender a ser no Labirinto da dor. De novo, um eterno retorno. Tudo era mais simples antes do tempo. Por isso, recomeço. Queria, primeiro, falar como a tempestade para poder conhecer a paz. Ser espuma que venera a areia, em languidez erótica por frição. Sou espectro onde principio a ganhar forma.

Exposição coletiva com Egidio Santos, Filipe Braga e Paulo Pimenta. A galeria José Rosinhas Art Gallery Wall,apresentou ao público uma exposição coletiva com Egidio Santos, Filipe Braga e Paulo Pimenta intitulada “Solos Fotográficos”. A inauguração foi no dia 10 de novembro de 2018


 A mostra estará patente ao público até ao próximo dia 04 de janeiro de 2019. Texto sobre a exposição:

SOLOS FOTOGRÁFICOS
 A programação do projeto José Rosinhas Art Gallery Wall para o gabinete de arquitectura Hous3, termina com uma exposição coletiva de fotografia com Egidio Santos, Filipe Braga e Paulo Pimenta. Há já cento e cinquenta anos que a fotografia anunciou a morte da pintura, mas esta última perdura até hoje, e influencia por sua vez, o olhar do fotografo para a natureza, objetos e para a sua memória visual do quotidiano. Constatamos isso nas imagens apresentadas por Egidio Santos (Porto, 1970), uma fusão de cores que leva o espectador para um mundo de emoções e sensações intensas. Como o próprio diz: "Esta série fotográfica usa as nuvens enquanto matéria-prima na criação de imagens onde a mancha de cor é o foco principal." Com um percurso profissional especializado no fotojornalismo, retrato e na fotografia de arquitectura, o seu percurso artístico rege-se por uma temática em que a cor tem o seu papel primordial. Também as paisagens de Filipe Braga (Porto, 1972), imagens desfocadas, tornando-se assim abstratas, mas que nos ligam ás nossas memórias que se vão alterando ao longo do tempo. “São os lugares onde habitam as memórias de culpa e desejos inconscientes”, assim estas imagens da série “Paisagens Infiéis”, são espaços visuais que nos ligam a lugares de desejo e de luta interna. “Fui eu que o fiz”, diz a minha memória. “Não posso ter feito isso”, - diz o meu orgulho e mantém-se inflexível. Por fim - é a memória que cede. Friedrich Nietzsche Na obra de Paulo Pimenta (Porto, 1967), mais concretamente na primeira imagem de tríptico, não se pode deixar de fazer referência à obra “O viajante sobre o mar de névoa”, 1818, de autoria do pintor alemão Caspar David Friedrich (1774 - 1840). Na obra constatamos que a figura masculina de costas assume o papel principal da obra e que o espectador é convidado a colocar-se na sua posição. Na obra de Paulo Pimenta, e apesar das escalas de representação serem substancialmente diferentes, não podemos deixar de fazer essa associação em que o público se pode rever na pequena figura humana que se encontra na imensidão da paisagem. Solos Fotográficos, título da exposição de fotografia, surge de uma reunião de trabalho na Casa da Música, do Porto, e que sugere que cada autor nesta mostra coletiva tem o seu momento a solo. O seu momento intimista com o visitante. José Rosinhas Novembro 2018

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