segunda-feira, janeiro 31, 2011

# Peço Desculpa,Porto, 29.01.2011 #

#PP_ACAMPAMENTO_23
#PP_ACAMPAMENTO_24
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#PP_ACAMPAMENTO_23
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#PP_ACAMPAMENTO_03
O cheiro mantém-se horas a fio depois de termos passado lá. Não se sabe se no corpo ou na memória. Não só o cheiro intenso a podre, nauseabundo, mas o cheiro a gente que não vimos.


Dizem que vieram de Leste - 30 pessoas de uma mesma família, mais 13 não se sabe de onde. Talvez tenham lido sobre os prémios que algumas autarquias portuguesas coleccionam, pátria de bons costumes em integração de imigrantes. Talvez tenham acreditado. Depois isto: barracas, lixo, plásticos a improvisar tectos e paredes, colchões entre as ruínas, ruínas entre tudo o que vemos.


Uma e outra vez já nos cruzamos com eles pela cidade, de mão estendida nos semáforos. E então ignorámos. Não o ignorar egoísta, o ignorar inchado de razão - não se vai para outro país para isto


(e ainda o cheiro, não se sabe se no corpo ou na memória)


Se por um momento a razão desincha, de novo o raciocínio a fazer força: provavelmente nem querem ser ajudados.


(“Tanto é o que precisamos de lançar culpas a algo distante quando o que nos faltou foi a coragem de encarar o que estava na nossa frente”)


Talvez seja verdade. Ou talvez não. Tanto pode como não pode. Não queríamos estar ali, mas já não podíamos não estar ali. A mão estendida no semáforo, é possível que o regresso a casa, à noite, seja para estas ruínas, já perto de onde o Porto deixa de ser Porto. Já muito perto de onde o Homem deixa de ser Homem.
Mariana Pinto Jornalista

terça-feira, janeiro 25, 2011

sábado, janeiro 22, 2011

# PORTO 22-01-2011 #

Esta manhã no Viaduto da Rua 05 Outuubro, continuação do trabalho "Enquanto Estamos Acordados"

#PP_ACORDADOS_01
#PP_ACORDADOS_02
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#PP_ACORDADOS_02
#PP_ACORDADOS_02
Cidade Do Porto
PORTUGAL
Séc.XXI

terça-feira, janeiro 18, 2011

#Serie# Segunda Temporada nº2

# Estratégias de reconhecimento #

Já tem idade para saber com que almofada dorme melhor. Se alta, se baixa. Não
importa. A verdade é que há dias em que dorme melhor com uma almofada baixa
e mole, flexível, que se encaixe sob o pescoço como aqueles cotovelos de ar que se
usam para dormir nas viagens transatlânticas.

(reconhece o seu eurocentrismo pela referência as viagens atlânticas, por oposição às
índicas ou pacíficas. E passa à frente)

Noutras noites, prefere almofadas altas e firmes como um sofá de cabedal, para quem
dorme de lado, recomenda o Ikea.

(reconhece as suas referências capitalistas como esta à grande superfície sueca de
design a preços de saldo, para a qual talvez uma criança tenha trabalhado por um
dólar/dia, ou um euro, vale menos por causa das oscilações nos mercados e do import-
export. Reconhece o grande capital, admite fazer compras no Continente, e passa à
frente)
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Surpreende-se por não saber ainda se deve comprar uma almofada alta ou baixa.
Nessa hesitação está toda a perplexidade da existência de números redondos, décadas
contadas pelos dedos de uma mão. Receia pôr o ponto final nessa mão e passar à
próxima. Só tem duas mãos: nessa hesitação está toda a perplexidade da existência
– ponto. Há 15 anos sabia tudo, não hesitava, lia Proust, mas sabe (e reconhece)
que nunca terminou o sétimo volume por pavor aos pontos finais. Deixa, portanto, a
porta entreaberta, inclusive para a entrada dessa incomensurável sensação de culpa
histórica.

(reconhece a cor da pele, branca, a cor dos seus ascendentes, brancos, europeus,
galegos, transmontanos, e reconhece que eles eventualmente viveram em África, com
pretos. Reconhece a herança colonial e passa à frente)
02
Chama-se auto-punição, mas aprendeu a viver nesse limbo entre a indulgência e a
clemência. Recentemente inspirou-se nas listas de Sontag, coisas como ela também
fazia mas já rasgou – e não haverá descendência que a continue porque é ela (e não
outra) a “mulher que não queria ter filhos de seu ventre”. Continua a fazer listas como
se tivesse quinze anos, e há quinze anos que a lista é quase sempre a mesma. As
artérias têm colesterol acumulado, o médico diz que nunca é tarde para andar, e falta-
lhe o ar a subir as escadas. O coração bate cada vez mais depressa, mas ela sabe que é
amor, não arteriosclerose
03
(reconhece a condição pós-moderna da sua existência, reconhece ter lido os
hermenêuticos, os estruturalistas e os pós-estruturalistas, reconhece não distinguir
foucault de deleuze de derrida, reconhece ter-se tentado pelo badiou e pelo negri, mas
ficou-se pelo gil. Reconhece ter bufado de tédio no espectáculo da filosofia-pop do
seminário do zizek. Como agora bufais vós de tédio por este auto-reconhecimento
punitivo da minha condição pós-traumática depois do fim da história enquanto sujeita
– não quero ser sujeito – pós-11/09. Continua a reconhecer o eurocentrismo na sua
condição, sabe que nasceu na Europa, escreveu até um livro sobre isso, mas não sabe
o que ela ainda quer dizer. Erasmus, Maastricht, Schengen ou Bologna?)
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Olha para trás e reconhece tudo. Pergunta-se para quê continuar a escrever se o
tempo da revolução já passou. Foi há 10 anos que disse “o amor é o silêncio” numa
tarde outonal de árvores vermelhas na esplanada da avenida de Berna. Aí começou
a Europa em espiral descendente de horror e de esperança. Escrevia cartas de amor
com Proust à cabeceira, à sombra de jovens rapazes em flor, Albertina prisioneira,
Albertina desaparecida, à procura do tempo reencontrado. Há que procurar a
revolução verdadeira.
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(reconhece que não vai ler todos os livros. Continua a fazer listas, mas reconhece
que são inúteis porque não há vida para além dos russos e dos modernistas. Admite
novamente o seu eurocentrismo e, diz, até lê autores pós-coloniais, africanos,
brasileiros, latino-americanos, encantam-na o Carpentier, o Borges, o Cortázar, o
Pepetela e a Lispector, mas toda a beleza da violência está nos russos, e toda a poesia
do niilismo está nos modernistas. Não quer ser bloomiana e dizer com Shakespeare,
tudo, sem Shakespeare, nada; abre a porta ao Camões e deixa-a entreaberta para quem
quiser entrar)

Lista de pendentes dos últimos quinze anos: 1) escrever sobre recomeços; 2) escrever
sobre o duelo de Pushkin. Um escritor que morre num duelo é bravo e literário.
Hemingway matou-se com uma pistola. Kerouac morreu bêbado. Barthes atropelado.
Woolf foi a Ofélia que Shakespeare desenhou. Pergunta-se muitas vezes como há-de
continuar a escrever se não conhece a morte. Gostava de poder jogar xadrez com ela,
mas só sabe que o cavalo se move em ele (elo, ela).
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Apesar da sua arrogância já não justificada pela idade, reconhece-se no espelho.
Ainda. Talvez hoje, mais do que dantes, com saudades de tangerinas doces, na
condição insular e pós-traumática do não-lugar onde as amendoeiras não florescem e
as vacas se assentam no prado verde quando a chuva se aprochega. Saudades já não
dos jacarandás lilases – essa fugaz flor de Verão (bela como uma actriz americana)
– mas da rosa camélia (bela como uma actriz italiana), e das japoneiras de Inverno
amadas pelas velhas doroteias.

M.D., Nottingham, 11 Janeiro 2011
Maria David

quinta-feira, janeiro 13, 2011

Exposição Centro Português De Fotografia.

No próximo dia 15 Janeiro de 2011 , pelas 17h00, inauguração da exposição PRÉMIO FOTOJORNALIMO 2010 ESTAÇÃO IMAGEM MORA, que terá lugar no edificío da Ex-Cadeia da Relação do Porto.

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