quinta-feira, abril 23, 2009

# Mais braço, menos braço - 6 #

Ontem vi um filme em que um homem dizia que para ir ao Pólo Norte bastava-lhe pensar nisso. Eu e a Valéria éramos assim. Quando queríamos estar uma com a outra pensávamos nisso. Tenho andado a tentar, mas agora não funciona. Acho que é preciso duas cabeças para haver telepatia e a tua, da última vez que a vi, estava a dormir de olhos abertos em cima do tronco de uma árvore. A minha também andado a dormir desde que abri o envelope. Quando era pequena sabia que nunca se aceita nada de um estranho. Devia ter mandado o envelope para trás. Assim na minha cabeça a tua cabeça continuava viva, e eu já podia voltar a ir ao Pólo Norte.
M.A.









# ANZOL #


Dia 23 e 24 de Abril TEATRO  VILA REAL  22.00 horas

quinta-feira, abril 16, 2009

# Mais braço, menos braço - 5 #

A dor é insuportável. Junto-me ao meu anjo.




























quarta-feira, abril 15, 2009

# EXPOSIÇÃO NA FLUP #




A A3S - Associação para o Empreendedorismo Social e a Sustentabilidade do Terceiro Sector e o Instituto de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), promovem, durante o mês de Abril, a terceira edição da iniciativa "O Mês do Terceiro Sector". Dirigido a profissionais e voluntários de organizações da economia social / terceiro sector, bem como a estudantes, licenciados, investigadores, entre outros interessados, vai realizar-se nos dias 17, 23 e 27 de Abril um conjunto de sessões de reflexão e debate que procuram antecipar o Ano Europeu do Combate à Pobreza e Exclusão Social em 2010 e promover a reflexão sobre a Pobreza e a Exclusão Social perspectivadas na sua relação com o Terceiro Sector, tendo em conta diferentes esferas de abordagem: a Economia Solidária, os Direitos Humanos e a Educação. Paralelamente às sessões, inaugura-se no dia 17 de Abril às 20h30, na biblioteca da FLUP, uma exposição fotográfica de Paulo Pimenta intitulada "Enquanto Estamos Acordados". A exposição poderá ser vista entre as 08.30 até 20.30 de Segunda-Feira a Sexta-feira e Sábado das 09.00 até 13h na BIBLIOTECA CENTRAL FACULDADE LETRAS UNIVERSIDADE DO PORTO ATÉ AO DIA 15 MAIO

# PERCURSO #















“Quando morrer, atira as minhas cinzas sobre o Bósforo”, costumavas dizer nas noites em que a fome dos corpos ia adiando o sono até a primeira luz romper a persiana branca do quarto. E rias, com aquele riso claro que te acontecia sempre que ficávamos assim, com tempo para sentir o tempo passar-nos pelo corpo: quente/frio, claro/escuro.
Os dois esquecidos dos outros na geografia dos lugares onde nos habituamos a vagabundear o ócio dos sábados: a circunavegação de bicicleta, a árvore onde marcámos a giz branco um hieróglifo que só nós conseguíamos decifrar, os ziguezagues pela neve onde desenhávamos os mapa-múndis que, por vezes, nos acompanhavam no revolutear dos lençóis nas noites em que a fome dos corpos ia adiando o sono até a primeira luz romper a persiana branca do quarto. “Quando morrer, atira as minhas cinzas sobre o Bósforo”, recordo-me de te ouvir rir.




















































Mas isso era numa altura em que nos imaginávamos envelhecidos e juntos e gostávamos de brincar com a ideia de nós, a uma lareira de inverno, a tricotar exasperações e ternuras seculares: quente/frio, claro/escuro.
Hoje, meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada, a não ser este papel rasgado com o poema do Eugénio que copiaste à mão de um livro que não chegamos a comprar e que depois entoámos tantas vezes porque nos sentíamos, de facto, “no tempo dos segredos” imunes a esperas inúteis e como se todas as coisas fossem nossas, gritado assim, marcando cada sílaba co-mo-se-to-das-as-coi-sas-fo-ssem-no-ssas.
O que ficou desses dias foi a minha visão embotada dos lugares de antigamente. E eu que pensava ter esgotado o rio das lágrimas dou por mim a vagabundear o ócio dos sábados que já não é ócio é desespero que dói como sal em ferida aberta porque tu não estás e não te deste sequer ao trabalho de deixar cinzas que pudesse atirar ao Bósforo e a mim com elas porque o que me resta é este cenário de luzes que não são luzes mas sugestões alienígenas num jardim com árvores que não têm folhas mas a sugestão de algodão e neve que já não é neve mas resquícios avaros do nosso antigo delírio branco. Voltamos ao princípio?
Natália Faria

quinta-feira, abril 09, 2009

# Mais braço, menos braço - 4 #

O envelope com o meu nome foi atirado para cima da secretária às 16h37. Estava a escrever uma notícia importante, mas o choque foi tão violento (e tão físico, como num acidente de automóvel em excesso de velocidade) que nunca mais soube dizer qual era o assunto. Antes das 16h37 a Valéria ainda podia estar viva. Depois das 16h37 a Valéria está morta. Por partes: os braços num viaduto da grande circular que esgana a cidade, a cabeça em cima de uma árvore, o corpo no meio da vegetação que um dia vai arder, porque aqui nada sobrevive ao Verão para contar como foi. Pediram-me primeiro uma notícia, depois um obituário, acabei a ditar estas linhas pelo telefone, acho que são mil caracteres, depois de ligar à polícia a pedir-lhe para por favor tomar conta desta ocorrência, porque eu já não consigo tomar conta de nada, nem sequer do número de caracteres do layout da página 5. Amanhã a primeira página do jornal vai dizer que a Valéria foi assassinada por um animal com uma máquina fotográfica.  Acabei por não escrever nada na página 5 a não ser isto: nas minhas notícias, em todas as notícias que escrevi sobre a Valéria (porque a Valéria era uma das últimas actrizes sobre as quais valia a pena escrever, e no fim eu dava cinco estrelas ao filme, todas para ela, e não fazia mais do que a minha obrigação), ela ainda estava viva. É verdade que morreu, mas isso foi nas notícias dos outros.




domingo, abril 05, 2009

# ASSIM FOSSEM AS GUERRAS NO MUNDO #






















Porto 03 Abril 2009 Avenida dos Aliados






GUERRA DAS ALMOFADAS

quinta-feira, abril 02, 2009

# Mais braço, menos braço - 3 #

Lembro-me que estava na praia e de um momento para outro perdi os sentidos. Não sei onde estou. A última mensagem de Valéria. Estas foram as últimas fotos da actriz durante a rodagem de "O Rapto". Quem souber do paradeiro é favor comentar. Aqui e aqui