terça-feira, outubro 23, 2007

#NUNCA MAIS#



A prisão vai ao teatro
NUNCA MAIS de Fernando Moreira e encenação de Luisa Pinto
Matosinhos, Edifício dos Paços do ConcelhoGaleria Nave.
De 23 de Outubro a dia 28.(Com excepção de Sexta-feira, dia 26) às 21h30.

sábado, outubro 13, 2007

# SERIE I .fim #

Lisboa,07 de Outubro,2007














.fim


Enxergar é um verbo molhado. Com os olhos muito abertos é díficil ver através das lágrimas de vidro. Hoje, com o clarão reflectido no cimento, pensei ter vislumbrado a presença dela, correndo para o outro lado da rua, desaparecendo na escuridão. Tinha aquele lenço de seda com flores pequeninas vermelhas e murchas – eu vi, pela frincha da porta, quando lhe puseste as mãos à volta do pescoço, no beijo da morte, o batom esborratado do lado esquerdo, a máscara a cair em pedaços de louça preta pelas faces desfeitas em barro. Finalmente, a chuva. Juro que a luz me feria os olhos, mas só hoje eu sei ver com claridade o que me cegou.

Ontem. Pus o quadro de flores na parede da sala. Vermelhas por fora, laranja por dentro, o mesmo laranja da tangerina podre varejada por mosquinhas irritantes na mesa da cozinha. Não limpo. Juro que não vou limpar. Sei que as mosquinhas atómicas se vão multiplicar e infectar a última banana que nasceu verde. Até agora, a pinta da banana não é visível a olho nu, mas os ombros, os pés, os joelhos dela são. Não deito fora. Juro que não – o cheiro há-de fazer-me acordar. Ao fim de alguns dias, tudo estará já podre, a banana verde estará preta, o quadro laranja partido, e a tangerina coberta de pó branco do bolor. Vejo as pintinhas espalharem-se lentamente pela pele da banana, vejo as dobras ganhando sombras como rugas, e uma pinta a transformar-se numa mancha de óleo.

Anteontem. A subir escadas até ao infinito desde domingo. Dezassete andares para cima, às escuras, e tremem as pernas porque haverá algures baratas do lado de lá do corrimão. Quando se desce, parece um mergulho no vazio, corre-se, mas não se chega. É aterrar num corredor com uma parede transparente e não ter uma chave. Dezassete andares para cima: camisas suadas, pingando as gotas da chuva que não cai há dias. Ar quente, humidade relativa aos pulmões de cada um. Sonhava com bolas de sabão. (ela disse que água, há sempre!). Acendi a vela madura (ela disse que, agora, a luz nunca faltava), e já não havia duas sombras na sala.

Domingo, comprei-te um quadro de flores. É difícil ver o tempo passar. (ele disse que as flores eram bonitas). Eu sei que os dezassete andares custam, eu sei o que é sonhar com escadas de centro comercial. (ela disse-me que o elevador nunca avariava). Mas cá em cima ainda há pequenas recompensas. Antes de chegares, despejei o leite no ralo, coalhado, descendo em golfadas em direcção ao solo, dezassete andares de tubo roído pelo cheiro branco da nata azeda. Antes de chegares, vi, através das janelas de vidro em retalhos rectangulares – não sei explicar, tinham uma alavanca como as portadas de madeira da casa da minha mãe – um táxi parar em frente ao prédio. Dezassete andares de olhar para baixo, longe do corrimão onde se escondem os ninhos das baratas, perto do leite derramado. Não, os olhos não ficaram molhados. Não, não era a chuva que finalmente caía. Não, não vi. Juro que não era um táxi. Era o vidro que distorcia tudo, era duplo e grosso, de um material que riscava quando se passavam as unhas, talvez fosse um plástico. Não se percebia bem, com a claridade quente batendo nas alavancas de metal e reflectindo os raios de sol, ia jurar que não vi o cabelo, o lenço, o pescoço dela. (mas ele disse que as flores eram bonitas). Enxergar é díficil com as lágrimas embutidas no vidro. Depois de subires as escadas, de beberes toda a água do púcaro com uma pedra de dezassete andares de gelo dentro e da camisa suada a anunciar a chuva que ainda está para vir, disseste que as bananas apodrecem quando se rasgam uma da outra, pelo caule.

Quinta-feira. Escolhi a tua prenda de anos. No mercado, comprei bananas, mas não havia malmequeres. Estavam murchos, queimados nas pontas, as folhas caíam, pêndulos. Por isso, trouxe geribérias. Vermelhas. Espero que durem até domingo.


M.D.
Liverpool, 8 de Outubro, 2007

quarta-feira, outubro 10, 2007

# EXPOSIÇÃO FNAC COIMBRA #

GALERIA FOTOGRÁFICA DA FNAC COIMBRA
DE 01_10_2007 A 30_01_2008

















# PLANO C #

















































































































































































































































































plano c
(estudo de públicos)
de cristiana rocha
Intervenção criada em colaboração com o fotojornalista Paulo Pimenta no âmbito do festival "se esta rua fosse minha…", organizado pelo plano b e integrada na fase "estudo de públicos" do projecto "apresentação pública".
Caracterização dos públicos do festival através de uma acção com carácter de participatividade. Os observadores e transeuntes são convidados a preencher o espaço em branco de cada t-shirt vestida por Cristiana Rocha, escrevendo a resposta à pergunta que cada uma formula sobre uma característica pessoal específica: Como é que te chamas?; Descreve-te numa palavra; De que signo és?; Onde gostavas de ir (e nunca foste)?; De que parte do corpo mais gostas?; Elege uma criação artística; Qual o teu sabor predilecto?
concepção e interpretação: Cristiana Rocha
fotografia: Paulo Pimenta
vídeo: Eva Ângelo
produção executiva: n.e.c.

05 de outubro 2007, a partir das 17h
rua cândido dos reis, porto
[ projecto apoiado pelo ministério da cultura/direcção-geral das artes ]
CONTINUAR O PLANO C NO www.publicpresentation.blogspot.com