Paulo & Luísa
A 15 de Maio, o Paulo passou o dia todo com a irmã Luísa. A vê-la viver a vida normal, aquela a que ele tem pouco acesso, porque, quando vai buscar a Luísa à instituição onde ela vive, o Paulo quer é enchê-la de mimos.
Mas, no dia 15 de Maio, o Paulo estava a participar no projecto Aday.org, que recolheu mais de cem mil imagens, de fotógrafos de 162 países, empenhados em mostrar um pouco do que era o mundo naquela Primavera. O dia do Paulo foi a Luísa.
Ele juntou-se ao projecto a convite do Luís Vasconcelos, da Estação Imagem/Mora e, a par com outros quinze portugueses, foi escolhido para integrar o livro, com mil fotografias, que condensa aquele dia e aquele projecto.
O livro chegou esta semana às mãos do Paulo, mas ele não o abriu. Não foi a correr procurar a sua fotografia da Luísa, envolvida e a envolver, carinhosamente, uma funcionária da instituição onde vive. O Paulo quis que a Luísa fosse a primeira a descobrir-se naquelas páginas.
Entregou-lhe o embrulho e fê-la carregá-lo (ela não gosta, brinca ele, como princesa que é, cansa-se muito com qualquer peso). O embrulho era grande, pesado, e a Luísa não sabia bem o que lá ia dentro.
Mas, já no conforto daquela que é a sua casa, com o irmão a guardá-la, outra vez, no olho da sua lente, a Luísa descobriu-se. E reconheceu-se. E reconheceu aqueles que a rodeiam. Ficou feliz. Envergonhada.
O Paulo não conta, mas ficou tão feliz quanto ela. Pela felicidade da Luísa. Por poder guardar mais este momento na sua lente. Mas, sobretudo, na sua memória. A Luísa, de unhas primorosamente pintadas, a rir-se e a ser acarinhada. Como devia ser sempre.
Patrícia Carvalho






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