quarta-feira, novembro 22, 2006

# CULTIVAR... #





















































Suor, areia e dor

Não é Lisboa que amanhece, como no bem conhecido tema de Sérgio Godinho. É, antes, o Mindelo, em Cabo Verde. E anoitece. Diante do mar da Laginha, em plena baía da morna ilha de S. Vicente, o culto do corpo não difere muito do que se pratica em outras latitudes. A religião é a mesma e, se novidade existe, ela reside apenas no templo onde os fiéis exercitam os rituais da sua fé. Em vez das salas fechadas de um ginásio, o ar limpo e largo de uma praia. Em vez de confortáveis aparelhos – almofadados, cromados, impecavelmente oleados –, autênticas esculturas de ferro e maresia erigidas ao improviso e à imaginação de um povo que, embora pobre, não deixa de cuidar do próprio corpo. Bíceps, tríceps, abdominais, glúteos, deltóides, trapézios, peitorais, adutores, gémeos, extensores e rectos, nenhum músculo escapa ao afã da vaidade. Suor, areia e dor – eis a dieta que os fiéis se impõem, rigorosa como uma lei inescapável. E um e dois, e um e dois. Só de olhar já se sente a fadiga, o esforço. No fim do dia, quando, enfim, a noite cai, os corpos, como na tal canção, hão-de ir cansados para casa.

Jorge Marmelo

Um comentário:

amor ao sol disse...

Olá Paulinho! Ai saudade dessa terra de gente quente...quentinha...onde os trapos com que se cobrem os corpos ficam postos no armário (haverá armário??). Talvez por essa nudez de roupa o corpo ganhe outros contornos! Talvez! Mas é bonito de se ver! beijinhos, rita