terça-feira, janeiro 19, 2010

PORTO POSITIVO /NEGATIVO Cinema sem Paraíso

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Na cidade “onde nasceu um dia a sétima arte em Portugal”, pela mão de Aurélio Paz dos Reis, é cada vez mais estranho falar-se de Cinema. E já que falamos nisso, importa referir que estamos como é lógico a falar do Porto, a urbe que outrora possuiu, à laia de exemplo, o cineclube mais dinâmico do país e cujo número de associados fidelizados nunca augoraria o estatuto presente de pré-moribundo a que chegou. Urge fazer algo, pois na verdade há ainda pessoas que o defendem com estoicismo e para cúmulo são visadas no seu bom-nome em plena praça pública. A propósito disso, convém relembrar que ainda recentemente alguns, em nome de uma associação criada à pressa, e em nome de supostas boas intenções, não conseguiram disfarçar a cobiça pelo património da instituição e se propuseram reabilitá-lo, angariando para o efeito as credenciais de gente insuspeita nesta matéria! Estaremos enganados ou atentos? Isso será outra película...

Das salas tradicionais sobejam apenas alguns néons simbólicos. A era do chulé de pipoca dos centros comerciais desritualizou a ida ao cinema, aquele dos filmes que víamos até ao intervalo e discutíamos expectantes a segunda parte no bar, provando um café de saco e conferindo uma assertiva tricadela num toblerone. Sim, esse mesmo, o cinema do Águia D’Ouro (são memoráveis as filas para o blockbuster indiano da época: “ O Passado Inesquecível”), do Batalha, do Olímpia, onde os tirones janotas de Domingo ansiavam pela matiné do engate, nem mais nem menos do que uma garina para trocar uns cuspes e até tinham a ousadia de nem saber se o filme era a cores! E depois veio a “classe conforto”, tal e qual o alfa-pendular, dos cinemas de “segunda geração”, alguns já mais deslocalizados da Baixa: Charlot, Foco, Pedro Cem, Passos Manuel, Lumiére e Nun’ Álvares, sendo que este é o único da lista em que já se vê luz no fundo do projector. Será exemplo único ou múltiplo? Talvez valha a pena acreditar que lá virá o tempo em que alguns dos espaços sobreviventes e não reconvertidos façam a travessia até à altura em que volte a ser moda, uma espécie de ritual vintage, ir à Baixa do Porto ver cinema. Até lá, contentemo-nos com o Fantasporto.

João Fernando Arezes

5 comentários:

Marta disse...

EXCELENTE tudo! texto e imagens.

[vou roubar, tá bem? é retórica, a pergunta...]

Humberto Almendra disse...

Se pensarem bem, facilmente verificarão que nunca existiram tantas salas de cinema no grande Porto como agora, nem tanta facilidade de acesso ao cinema. Seja em DVD, na Internet ou nas salas bem confortáveis, eu consumo cada vez mais cinema, e confesso que não sinto falta nenhuma dessas salas do tempo da velha senhora. A sétima arte tem agora uma prova de fogo, mas estou convencido que prevalecerá o bom senso, e cada vez mais haverá gente a interessar-se pelo cinema. O importante era que fosse possível produzir mais cinema em Portugal, e que se criasse uma indústria que organizasse todos os recursos. Realizadores, actores, argumentistas, compositores, ... e esta lista nunca mais acabava. Ah, e outra coisa que assinaria por baixo, era criarem alas para os pipoqueiros, assim como fizeram com os fumadores. É que aquele permanente ruminar é uma péssima banda sonora.

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

Porque não há salas de cinema? Respondeu aqui o Humberto Almendra. Aí está! Há muitos como ele a "sacar" filmes da NET e a ver ao domingo em casa na cama ou no sofã. Acham as idas ao cinema uma coisa de cotas ou putos mais as pipocas. Enfim...
Enfim, mesmo!

Lua Cósmica disse...

Os shoppings estão a comer tudo... Têm aquele canto de sereia que seduz a sombra mais distraída e o chapéu pendurado na mão. Engolem as pessoas, não deixando sobreviventes para apreciar o ar lá fora: as lojas, o cinema, os bares e até os passeios mais casuais. No entanto, reparem... o grupo dos resistentes tem crescido e este blogue, o texto do meu amigo Arezes, as fotos e os comentários são o exemplo vivo... A tal luz ao fundo do túnel não esmoreceu e está a ganhar cada vez mais intensidade! Temos é que continuar a marchar com as nossas tochas!

Neide Oliveira disse...

Oi Paulo, tudo bem?
Sabe onde eu conseguiria fotos de divulgação do Bar Sahara, no Porto? Estou no Brasil e tenho alguma urgência e o proprietário não pode me atender agora.
Obrigada!