terça-feira, junho 19, 2012

O silêncio dos inocentes

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 O país, parece, vivia acima das suas possibilidades. Não era eu, não eras tu, não era o pequeno comerciante que arriscou montar um negócio modesto, nem o homem que agora se encolhe sob o caixote que já serviu para guardar os lençóis que ele não tem. Era o país. E o país está agora a ser posto nos eixos, a ganhar juizinho, a apertar o cinto e a aprender com quantas letras se escreve austeridade. Não são os bancos, não são as grandes empresas, não são os que lucraram com as negociatas das últimas décadas. É o país abstracto e são as pessoas concretas que vão ficando ainda com menos do que tinham antes, absolutamente ignorantes do invisível luxo que esbanjavam, vivendo de acordo com expectativas cada vez mais baixas. O país é uma loja fechada, mais uma montra cega e outro homem abrigando-se precariamente debaixo do lixo que consiga encontrar. Passou um ano e resistir é cada vez mais uma palavra como as outras, escrita numa parede qualquer, silenciosa e fria como uma caixa registadora vazia ou um país que aprende a estar caladinho e quieto à espera de que a tempestade passe.
Manuel Jorge Marmelo

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