terça-feira, novembro 25, 2008

# É PRECISO SONHAR ACORDADO #







HOTEL PROBLEMSKI
“Bipul Masli é um fotógrafo da Somália que se encontra detido num Centro de Apoio para Refugiados na Bélgica.Com um espiríto mordaz e corrosivo, relata o quotidiano do centro: homens e mulheres oriundas dos países mais pobres e mais conflituosos do mundo, forçados a conviver enquanto aguardam por um visto que nunca chega que lhes abra as portas para uma vida hipoteticamente melhor.”

“Aliás, não foi preciso esperar muito antes de ver a minha convicção provada: o meu pai nem sequer tinha acabado a sua primeira garrafa quando rebentaram tiros n´«A Tarde Regada”. Os rebeldes, nestes dias ainda na sua fase inicial.Não sei o que me deu, e era tudo demasiado confuso para considerar a minha memória uma fonte fidedigna, mas não acredito que me tenha deitado ao chão. Fiquei em pé e fotografei:a minha irmã mais velha no segundo em que apanhou com uma bala no meio da testa.Não se podia chamar-lhe um acto consciente,simplesmente fi-lo.Tento vê-lo como o instinto do fotógrafo,tal como faço.”

“Havia 14 mortos , e um deles era a minha irmã mais velha.Um homem salpicado de porcaria veio em minha direcção,apresentou-se como jornalista e perguntou se tinha mesmo tirado fotografias.”Sim,” respondi (ou apenas anuí com a cabeça?),

“No dia seguinte, a minha fotografia estava no jornal, na primeira página.Foto:Bipul Masli.É o que dizia.Com o c de copyright à frente.
Aí, ai é que começou a minha vida como repórter fotográfico. Com uma fotografia demasiado pequena, tirada com uma obturação demasidamente lenta e sobexposta.”
Pag.21 e 22

“Se Deus escolheu como modelo para o nosso planeta o seu Parque de Diversões Perpétuas, então podemos apostar a nossa vida em como a burocracia na vida eterna será uma confusão dos diabos.Quantos documentos terei de preencher aí, quanto carimbos terei de arranjar além e quantas comissões irão ter de entornar café sobre o meu processo antes de me ser atribuído um quartinho minúsculo que em seguida terei de partilhar com um anjo que fala apenas russo.Quero dizer, já passei por isso,foi bom,obrigado, adeus.”
Pag70 e 71

A pedido da revista flamenga “Deus ex Machina”.Dimitri Verhulst deixou-se internar durante alguns dias no Centro de Acolhimento de Arendonk.O resultado foi uma reportagem para a revista, mas o que ali tinha visto não o abandonava: as pessoas cujo dias e sonhos são embebidos pelos horrores do que passaram; as tensões entre os vários grupos éticos,as condições humilhastes no centro, os contactos com traficantes de homens e as tentativas de fuga desesperadas – por vezes em contentores de carga onde a falta de oxigénio leva à morte.

Hotel Problemski
DIMITRI VERHULST
Prefácio de
ANTÓNIO GUTERRES
Mercado de Letras Editores

Um comentário:

João Soares disse...

Caro Paulo Pimenta
Excelente trabalho e blogue.
O homem ainda é uma espécie violenta.Não é fácil a bondade, a não-violência,o diálogo,a compaixão, a humildade, a sobriedade, a frugalidade, a simplicidade.

Um abraço
***** Paz *****
Voltarei