domingo, setembro 09, 2012

# Inauguração da Exposição "Na Casa De" #

Apartir 18.30
12 Setembro 2012
FNAC  do Porto  na Rua Stª.Catarina

010203040506

HABITAÇÂO E IDENTIDADE SOCIAL




As relações sociais manifestam-se sempre num espaço e num tempo. O espaço habitacional e de alojamento está por isso carregado de sentimentos, praticas, significados, lógicas, rituais.

As Casas que fotografámos sempre com gente dentro eram muito pobres mas o seu capital simbólico muito rico. Às vezes quando a objectiva da câmara se abria o registo fotográfico revelava sofrimento, vergonha, desprestigio social.

Associado à insalubridade, à falta de conforto, comodidade e segurança vinha preso ao olhar destes moradores a reputação do fracasso, a fama da má sorte, o castigo de Deus, a distinção social negativa por viverem aqui.

Fotografámos muito o perigo eminente de ruína de alguns telhados mas em muitas casas o homem da que dava ordens à maquina só conseguiu retratar a simbolização do espaço ,ou seja o que significa para estas famílias viverem neste local e como a comunidade envolvente os classifica na impiedosa tabela do prestigio social e do senso comum.

A Máquina fotográfica fala e sabe interpretar a lógica segregacionista da sociedade de classes. Os lugares de residência distinguem socialmente as pessoas. Os lugares onde as pessoas vivem reflectem uma descontinuidade dos modos de vida dentro da cidade. Há rupturas que é necessário evidenciar, desmascarar, denunciar. Uns vivem aparentemente bem alojados ,sem privação, munidos de conforto, poder e prestigio social , outros sobrevivem nos territórios da exclusão , segregados, com ratos e cobras a entrarem –lhes pelas portas dentro, sem saneamento, sem casa de banho interior, com a chuva a escorrer pelas paredes pálidas ond estão sempre seguradas fotografias e a etiquetagem social negativa sem caixilho.

Mesmo assim, a minha casinha como dizem, é para muitos o seu mundo, pequeno mas arrumado, a minha casinha é como a sua vida, gasta e já sem remendo ,a minha casinha é para muitos uma fortaleza, não lhes dá poder nenhum, mas permite-lhes esconder algumas feridas . A minha casinha cortou-me as pernas

e as oportunidades mas é aqui que eu quero morrer, porque a pessoa que eu sou e o meu estilo de vida são a porta e a janela da casa onde eu moro.

Porto,17 de Maio de 2011

José António Pinto

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